Então, é Natal?

Sei que prometi mais fotos e textos do Rio, daquelas curtas e merecidas férias, mas não deu. Fui vencida por uma série de compromissos, trabalhos extras, tarefas domésticas e outras atividades que fazem com que entremos em uma roda-viva todo o final de ano.
 
Confraternizações, amigos secretos, compras e um corre-corre danado para dar conta de tudo o que ficou para trás nos últimos 11 meses. Na minha família, a coisa complica ainda mais. A uma semana do Natal, há quatro dias seguidos de aniversários - incluído o meu no dia 19 e o do namor, em 26, que sempre requer um presente especial. E mais outros tantos ao longo do mês. Para piorar, o tão esperado recesso, com o qual já havia me acostumado nos últimos três anos, foi para as cucuias.

Ah, tiveram também eventos extras neste mês de dezembro: de velório a batizado, passando por check in do cachorro no hotel, diversas idas aos shoppings e a elaboração de um projeto de comunicação. Praticamente uma gincana.

A correria completou-se no dia D – a véspera natalina. Plantão na Imprensa da Câmara (com o segundo andar do prédio do Legislativo totalmente às moscas), presentes de última hora e uma manicure à beira de um ataque de nervos. Ela, por sinal, foi quem me serviu de inspiração para este post.

16h30min. No horário marcado, cheguei ao salão para “fazer o pé”. Sorridente, a dona do estabelecimento abriu-me a porta e pediu que eu esperasse um pouco. “Tranqüilo”, pensei. Enquanto folheava uma revista com notícias velhas e “importantíssimas” sobre a vida de artistas e algumas subcelebridades, comecei a prestar atenção na manicure, a quem eu aguardava pacientemente para ser atendida.

A aproximação só confirmou minhas suspeitas: ela estava estressada, praticamente histérica. Será que deveria entregar meus ricos pés àquela pessoa? Bom, o lance era relaxar e rezar para que ela não me tirasse nenhum “bife” ou resolvesse usar a espátula para cometer um homicídio com o primeiro que lhe cruzasse a frente (no caso, eu).

O rosto dela dizia tudo, estava acabada. Queixou-se de dores no corpo, ocasionadas pela longa jornada de trabalho dos últimos dias, da corrida contra o relógio para atender a todas e da indecisão das clientes na hora de escolherem que esmalte usar. Ao final, pediu desculpas, deu-me um abraço e desejou feliz Natal.

Confesso que tive pena dela. Pensei em todas essas pessoas atrás do balcão. Não só nos comerciários, que estão na linha de frente para aplacar essa insanidade consumista do período que antecede as festas de final de ano, mas em todos que atuam no setor de serviços: garçons, mecânicos, taxistas, cabeleireiras e, claro, as manicures.


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Ah, a gincana natalina não acabou por aí. Na sequência teve visita aos Machado – para o aniver da minha madrinha, ceia em família, temporal que quase alagou Porto Alegre e mais festinha no Opinião. A brincadeira terminou às 7h do dia seguinte. Depois de poucas horas de sono, 300 quilômetros de estrada rumo a Passo Fundo.

Num clique

Com o recurso de panorâmica dá para fazer umas fotos bem legais. Todas essas, porém, têm o mesmo crédito: André Ferreira. 
Não consegui coordenar muito bem o ponto de junção das imagens. 
Tudo o que é bom dura pouco. Assim foram as minhas férias, passaram num clique. Na verdade, não foi apenas um. Foram centenas de cliques. Imagens capturadas entre erros e acertos (testando o brinquedinho novo), mas que certamente guardam boas lembranças desses momentos.


Até então, havia me faltado tempo e coragem para escrever. Confesso que, diante do mar azul de Copacabana, rabisquei alguma coisa. Impressões dos poucos dias vividos na Cidade Maravilhosa. Em breve, mais fotos e relatos de alguns locais que visitamos.
Lápis e papel na mão: eis a prova

É Primavera (vai chuva)

Insosso. Este é o adjetivo que define os últimos dias do finado inverno 2010, que felizmente se encerrou nesta chuvosa quinta-feira, 23. Embora a primavera não tenha dado o ar de sua graça, sei que não tardará. Logo os dias serão maiores do que as noites, Ipês roxos e amarelos se encherão de flores e os Jacarandás da Praça da Alfândega anunciarão a proximidade de mais uma Feira do Livro.

A cada ano, o inverno me é mais incômodo, com suas tediosas tardes cinzentas e finais de semanas inteiros de aguaceiro. Chuva que não acaba mais. Deixando o clima de lado, há também uma série de por fazeres que, certamente, trariam mais sabor às inúmeras horas perdidas, em que a preguiça impera.

Agora, entretanto, tudo será diferente! É tempo de tirar o mofo e de guardar as roupas de lã na barrica. De sentir o perfume dos lírios e admirar as cores das rosas, azaléias, três marias e tantas outras flores. De ajustar os ponteiros para o horário de verão, de comemorar a chegada das férias e de mais um recesso parlamentar na megalópole hamburguense (se Jesus permitir, é claro).


Há também os planos. Aqueles que hibernaram durante meses e que agora estão prontos a serem executados, seja no sentido de realizá-los ou de assassiná-los de vez.
O inverno acabou. Resta agora cessarem as chuvas. Aquelas que tornam a empoçar sentimentos, represados em meio a precipitações e lágrimas. Sensação de déjà vu ou apenas rabugice de estar úmido até os ossos?

Tempo de minh'alma

Em meio a teses, histórias e historiografia acerca do jornalismo, os pensamentos correm à solta. Vem-me a reflexão dos dias frios e chuvosos que antecederam as férias. Ora, o tempo continua instável. Na última semana teve variação de mais de 20 graus. O tempo da minha alma, porém, é outro. Bem mais leve e ensolarado que outrora.

Tudo o que antes me era incômodo agora jaz no fundo das gavetas. Não em espaços físicos, mas naquelas que ficam devidamente arquivadas nos confins da nossa mente. De acesso mais difícil e atribuição de aos poucos transformar lembranças em imagens insípidas, incolores e inodoras.

As aulas me inspiram. Suscitam a vontade de externar o que dificilmente se revela verbalmente. Mas, de acordo com minhas queridas convivas, através de olhares ou caras de incógnita. Entre risos e letras de música que, diga-se de passagem, situam-se na prateleira mais acessível e estão sempre ao meu alcance.

Volto ao convívio acadêmico tal qual a criança que retorna das férias (passadas em alguma praia, fazenda ou na casa dos avós) cheia de histórias felizes, curiosas, engraçadas e até ridículas. Muitas delas com o mesmo viés infantil de início, meio e fim. Outras, entretanto, que certamente terão desdobramentos.

*Escrito em 21 de agosto de 2009. 

Música de Brinquedo

Adoro dar presentes. Talvez, por esse motivo, sempre ocupei o posto de compradora oficial desses pequenos mimos. Seja agora no setor de imprensa da Câmara, ou nos idos anos 1990, quando dispondo de parcos recursos nos reuníamos para dar presentes a cada uma das meninas do sexteto em seus aniversários. Acostumada a garimpar novidades, especialmente as musicais, sugeri o CD de uma banda recém-lançada chamada Pato Fu. Bom, o caso é que músicas como “Vida Imbecil”, “Sobre o Tempo”, “Qualquer Bobagem” e “Vida de Operário” – do disco Gol de Quem? (1994) - tornaram-se trilha sonora diária.
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A lembrança me veio ao escutar o novo trabalho do grupo mineiro. Música de Brinquedo (2010) alia o bom-humor e a sutileza da vocalista Fernanda Takai à criatividade de John Ulhoa e companhia, que a acompanham tocando instrumentos infantis. Fazendo uma releitura de clássicos com saxofone de plástico, caixinha de música, xilofone colorido, pianinho, violões e guitarras em miniatura, bichinhos sonoros, tudo literalmente de brinquedo.



 
A aventura tem ainda a participação especial de três pimpolhos: Nina (filha de Fernanda e John), Matheus e Mariana. Muito fofo é ver as figurinhas fazendo caras e bocas no making of divulgado pela banda. E ainda a Nina, de seis anos, na música “Todos Estão Surdos”, dizendo que “esta frase vive nos cabelos encoracolados das cucas maravilhosas”.

Diferente e lúdico. Vale a pena conferir!



Músicas do CD:
– Primavera (Vai Chuva) (Cassiano, Sílvio Rochael)
– Sonífera Ilha (Branco Mello, Marcelo Fromer, Toni Bellotto, Ciro Pessoa, Carlos Barmak)
– Rock And Roll Lullaby (Cynthia Weil, Barry Mann)
– Frevo Mulher (Zé Ramalho)

– Ovelha Negra (Rita Lee)
– Todos Estão Surdos (Roberto Carlos, Erasmo Carlos)
– Live And Let Die (Paul McCartney, Linda McCartney)
– Pelo Interfone (Ritchie, Bernardo Vilhena)
– Twiggy Twiggy (Lalo Schifrin, Hal David, Burt Bacharach, Morton Stevens, Nanako Sato)
– My Girl (Smokey Robinson, Ronald White)
– Ska (Herbert Vianna)
– Love Me Tender (Elvis Presley, Vera Matson)

Após a pós

Aprovado com grau 10 na última terça-feira, “O peão, o candidato e o filho do Brasil: o cinema na construção do imaginário de Lula” é um árduo trabalho de pesquisa, minha monografia de conclusão do curso de pós-graduação em História, Comunicação e Memória do Brasil Contemporâneo.
Aliviada, após meses de dedicação, correria e de dúvidas quanto à metodologia, sei que todo o esforço valeu a pena.

Um ano e meio realmente passou voando. Agora acabou! As discussões entre jornalistas e historiadores e todo o aprendizado, entretanto, estes permanecerão na memória. Além, é claro, dos queridos colegas e das festinhas promovidas pela turma a cada final de disciplina.


Humberto, Flach, Tati, euzinha, Nazi, Pri, Ralfe, Cris, Enécio, Fernanda, Camila

Se fazer o trabalho de conclusão de curso foi uma tarefa difícil e desgastante, muito mais do que na época da graduação, esta nova incursão semiótica e o estudo mais aprofundado sobre cinema, porém, despertam em mim a vontade de seguir adiante. Não passei impune por essa experiência, o bichinho da academia (e do cinema) mais uma vez inoculou o seu veneno.

“Cada arte tem o seu próprio significado poético, e o cinema não constitui
exceção: ele tem a sua função particular, o seu próprio destino, e nasceu para dar expressão a uma esfera específica da vida, cujo significado ainda não encontrara expressão em nenhum das formas de arte existentes”.
                                                                                               Andrei Tarkovski

A ideia de fazer um mestrado, por enquanto, vai ter que esperar. O momento é de relaxar a mente, descansar o corpo e, principalmente, de comemorar. E também de desengavetar projetos e de fazer todas as coisas que prometi para depois de 16 de agosto (a lista é interminável). Sem esquecer de agradecer àqueles que participaram desse processo.

Agradeço a minha mãe, Ana, por mais uma vez me incentivar a seguir adiante;
Ao meu orientador, Humberto Keske, pelo apoio, aprendizado e por uma nova incursão semiótica;
À amiga e colega Tati Lopes pela parceria pessoal e profissional e pelos momentos de alegria e tristeza com ela compartilhados;
À amiga Maíra Kiefer pelo auxílio nas correções e por atender às minhas demandas de última hora, com a disponibilidade e o carinho de sempre;
Em especial, ao meu querido André pela paciência, companheirismo e por fazer parte desta conquista.

Pelo fim do silêncio

Faço aqui um manifesto!

A ideia é protestar pelo fim do silêncio. Pelo fim das palavras não ditas, daquelas que nos engasgam a alma. Há tempos decidi falar. Deixar incurada a verborragia que me assola.

Proferidas no calor da hora, podem por vezes soar intragáveis, difíceis de digerir. Mas o que dizer da quietude densa, incômoda, que nos enche de dúvidas e inseguranças?


Por vezes a palavra representa um modo mais acertado 
de se calar do que o silêncio”.
                                                        Simone de Beauvoir

Sigo conjungando verbos, articulando pronomes, concordando adjetivos. Tantos quantos julgar necessário. E era isso.

Memória eleitoral

Em dias de imersão nas teorias e conceitos sobre mitos e imaginário, relembro fatos e momentos marcantes da política nacional ocorridos nas últimas décadas. Ao longo dos anos, minha memória, especialmente a musical, acumulou uma dezena de jingles e também slogans de candidatos às esferas municipal, estadual e federal.

Confesso que acompanhar o dia a dia de uma casa legislativa, de certa maneira, tem me decepcionado. É a confirmação da mediocridade que permeia o fazer político, mas que felizmente não se estende a toda categoria. Pior, considero, são aqueles que gritam aos quatro ventos que odeiam a política. Como se suas vidas, não tivessem nenhuma ligação com atos governamentais ou com a burocracia do Estado.

                                                                              O Analfabeto Político
                                                                                       Bertold Brecht

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

A proximidade das eleições gerais deste ano faz acender em mim o antigo gosto pela coisa. E mesmo que a esperança e a torcida por esse ou aquele candidato não tenham a intensidade de antes, seguirei acompanhando, com gosto, debates e programas eleitorais. Quanto às pesquisas? Ah, essas é melhor ficarmos sempre com os dois pés atrás.

Três décadas

Em virtude de uma conjuntura astrológica-doméstica-acadêmica de completo caos, abandonei esse espaço por alguns dias. Retorno numa data especial: o Dia do Amigo.
Faço aqui uma pequena homenagem a todos os meus queridos amigos. Mais recentes ou de longa data. 

Não poderia deixar de citar, é claro, o quinteto fantástico que tem me acompanhado há alguns anos, desde os tempos idos da infância: Ana Paula, Camila, Michelle, Simone e Tatiane. Um dia, menos atribulado, conto um pouco mais das aventuras das Meninas do Vinho (inclusive a origem desse infame codinome); dos nossos encontros, cada vez mais escassos, mas sempre muito divertidos; e tudo aquilo que une personalidades tão diversas, porém, complementares.

Éramos vizinhas. Ana, Si, Camila e eu morávamos nos mesmo condomínio, no qual parte dessas histórias aconteceram. Em meados dos anos 1990, juntaram-se ao grupo minhas co-sanguíneas Mi e Tati. Com essas, aliás, a amizade já dura mais de três décadas, tempo não muito acima das demais.

Com uma série de exigências da vida adulta, o dia a dia fora dos limites do Guaratyba não é fácil. Falta tempo para as conversas, para abraços e até para as habituais fotinhos. As fofocas, pelo menos, conseguimos colocar em dia virtualmente.
 
Eis a prova: nossas mamis Augusta, Ana  e Marlene. No colo Mi, eu e a Tati.


Em homenagem as minhas primas queridas:

"Há duas espécies de chatos: os chatos propriamente ditos e os amigos, 
que são os nossos chatos prediletos."
                                                                    Mário Quintana

Quem será o texano?

Desde que comecei a contar alguns causos nesse espaço, fiquei imaginando a quem poderiam interessar. Para tentar sanar essa curiosidade, segui a sugestão da minha colega e amiga Maíra e adicionei ao meu blog uma ferramenta chamada StatCounter, que além da contagem de acesso, mostra data, horário, cidade, provedor e IP daqueles que deram uma espiada por aqui.

Óbvio que o tal site nem sempre é preciso, mas através dele posso ter uma boa idéia de quem são os meus poucos, porém assíduos leitores. Tem me chamado a atenção, entretanto, alguém cujo endereço está situado no Hemisfério Norte, mais precisamente em Plano, Texas, EUA. Será que conheço e não sei que reside por aquelas bandas? Que o marcador está enganado? Ou trata-se de uma pessoa desconhecida que não sei por que motivo resolveu acompanhar algumas das amenidades que costumo por aqui postar?


Caro(a) amigo(a), por favor, apresente-se. Podes ter a certeza que isso não é uma intimação, é apenas um convite. Seja bem-vindo!

Sentimentos empoçados*

O sol que nos fortalece e ilumina há dias não aparece por aqui. Chove sem parar nas proximidades do paralelo 30. Chuva que angustia e empoça sentimentos.

Os dias cinzentos e úmidos nos faz mais sisudos. As tardes enfadonhas arrastam-se como a precipitação que se derrama dia após dias. Não há bom humor que resista a tanta água jorrando do céu.Um, dois dias vá lá. De preferência que não seja preciso sair de casa.

O calor das cobertas, pipoca, chocolate quente. Um pé sobre o outro, ou melhor, um par sobre outro para aquecer o corpo e a alma. Amenizando, assim, o desejo de fugir para algum lugar ensolarado, com as cores de eterno verão.

*Inverno de 2009

As coisas do pago

Que bom estar de volta e poder matar a saudade das coisas do meu rincão. Difícil passar alguns dias longe de casa sem o kit básico de sobrevivência do gaúcho: cuia, bomba e erva. Como nos versos de João da Cunha Vargas, musicados por Vitor Ramil, “quem te inventou foi pra o céu e te deixou para o Rio Grande.”


Velho porongo crioulo,
Te conheci no galpão,
Trazendo meu chimarrão
Com cheirinho de fumaça,
Bebida amarga da raça
Que adoça o meu coração.


Bomba de prata cravada,
Junto ao açude do pago,
Quanta china ou índio vago
Da água seu pensamento
De alegria, sofrimento,
De desengano ou afago.


Te vejo na lata de erva
Toda coberta de poeira,
Na mão da china faceira
Ou derredor do fogão,
Debruçado num tição
Ou recostado à chaleira.


Me acotovelo no joelho,
Me sento sobre o garrão
Ao pé do fogo de chão,
Vou repassando a memória
E não encontro na história
Quem te inventou, chimarrão.


Foi índio de pêlo duro,
Quando pisou neste pago,
Louco pra tomar um trago,
Trazia seca a garganta,
Provando a folha da planta,
Foi quem te fez mate-amargo.


Foste bebida selvagem
E hoje és tradição,
E só tu, meu chimarrão,
Que o gaúcho não despreza
Porque és o livro de reza
Que rezo junto ao fogão.

Embora frio ou lavado,
Ou que teu topete desande,
Minha alegria se espande
Ao ver-te assim meu troféu,
Quem te inventou foi pra o céu
E te deixou para o Rio Grande.

Tudo ao mesmo tempo agora!

Da manhã fria e nublada, após uma conexão em Garulhos e uma variação térmica de uns 20ºC, eis que, em meio a um jogo da seleção, chego a Ribeirão Preto. A cidade, distante cerca de 330 quilômetros da capital paulista, sedia, entre os dias 23 e 24 de junho, o Congresso Sindag 2010, maior evento da aviação agrícola brasileira.

Essa semana promete! Entre segunda e terça, acontece o 1º Workshop de Gestão Aeroagrícola, depois o congresso. Retorno à terrinha apenas na sexta, também durante uma partida do escrete canarinho.

Como ainda não usei este espaço para falar sobre meu(s) trabalho(s), vou explicar. Desde 2007, atuo como assessora de imprensa da Câmara Municipal de Novo Hamburgo. Lá, além do atendimento aos jornalistas, somos responsáveis pelo site http://www.camaranh.rs.gov.br/, pelo jornal impresso Câmara Notícias e pela TV Câmara, na qual concentro a maior parte da minha atenção, mas, no momento, por motivos, digamos, políticos, está temporariamente fora do ar.

Meu provedor oficial de recursos, na AI tive a sorte de conhecer pessoas especiais: as tambéms jornalistas Maíra Kiefer, Tati Lopes e Melissa Barbosa. Além das futuras troca-letras Daiane Pires e Fefa Feltes, minha querida pupila. Mais um monte de gente que nem daria para nominar. Há também a experiente Magda Wagner, coordenadora daquele pequeno hospício em que estou inserida.

O trabalho em NH rendeu parcerias. Entre elas, o atendimento ao Sindag, que minha amiga Tati e eu iniciamos no ano passado. Por esse motivo, estou agora em Ribeirão Preto.

Sigo assim. Dividida entre a política hamburguense, a aviação agrícola, o pós em História e Comunicação. Este um capítulo à parte, pois entre uma atividade e outra tento concentrar-me na escrita da monografia de conclusão do curso, que trata de cinema e imaginário, cujo prazo de entrega extingue-se em breve.

Em meio a isso, tento não me preocupar com as questões domésticas referentes a uma mudança de cidade, o que deve acontecer nas próximas semanas. Tudo ao mesmo tempo agora.

Então, fé em Deus e pé na tábua! Ou, como diriam os Tribalistas, "pé em Deus e fé na taba".

Noite de São João

O dia dos namorados, este ano, teve uma programação mais do que especial. Começou com uma jantinha na sexta. No sábado, um esquenta no Bier Market, com direito a cervejas especiais, e depois o show do Vitor Ramil, meu presente para o Dé.

Após a novela da aquisição dos ingressos, assistimos à Delibáb, o novo show de Ramil com as músicas do álbum homônimo, que traz canções inspiradas em poemas do argentino Jorge Luis Borges e do brasileiro João da Cunha Vargas. Ambos completariam 110 anos em 2009 e 2010 respectivamente.

No palco, acompanhando o caçula dos Ramil, o violonista argentino Carlos Moscardini. Um show que impressiona pela qualidade dos músicos e pelas belíssimas letras dos poetas. Milongas tocadas lindamente a dois violões.

Soma-se a isso o fator emocional. Afinal, posso dizer que o cantor pelotense sempre foi a trilha sonora desse romance, iniciado numa fria noite de julho. Então, quando no bis ele anunciou que cantaria Noite de São João, não pude conter as lágrimas.



Creio que é hora de sair da casca. De me despir de conceitos ou pré-conceitos. E falar aos quatro ventos: nada como uma boa companhia para curtir essa data, que pode ser comercial, mas sempre nos causa algum impacto.

Adorei todos os presentes. Assim como nós, essencialmente musicais.

Assim, quase que sem querer, vamos tecendo nossas redes. Teias de amigos, de trabalho, de interesses. Uma frase batida, mas que sempre faz sentido: “nada é por acaso”. Embora, a princípio, possamos não entender aquilo que nos cabe, sempre há um porquê, algo implícito.

A mola propulsora que nos faz seguir adiante, estabelecer contatos e que não deixa arrefecer aquela rede que com tanto custo construímos. E isso, meus amigos, pode ser a carta na manga que vai te salvar do desemprego, de uma pauta que não rendeu o suficiente e até mesmo de um final de semana de solidão. Afinal para que servem os amigos?

Fundamental é fazer o encadeamento constante de histórias e interesses.

Procura-se um lar para Ziggy



Canino, sem raça definida, vulgo vira-lata
Preto, sete anos, castrado
Serelepe e inteligente
Necessita de ração, água, carinho
E um novo dono




Há alguns anos, quando decidi sair da casa da minha mãe, adquiri novos hábitos e necessidades. Veio também a vontade de ter um cachorro. Eu, guria de apartamento, nunca havia pensado nisso. Mas por que não? Assim, em fevereiro de 2003, chegou o primeiro deles. Um SRD, pra lá de bagunceiro, que atende pelo nome de Ziggy.

Foi-se a Passárgada, veio a mudança para Novo Hamburgo e tantas outras novidades que se seguiram dia após dia. Infelizmente (ou felizmente) não há como prever o futuro. Hoje, há outras demandas, novos objetivos. E agora, por questões de comodidade e segurança, retorno à origem.

Abandono, não só o espaço e as plantas no quintal, como a cidade onde permaneço trabalhando, mas, em breve, deixarei de morar. Volto para uma construção vertical e, o mais importante, para a minha terrinha.

Para isso, entretanto, preciso urgentemente encontrar um novo lar para o Ziggy. Difícil pensar na separação. E ver os olhinhos tristes a fitar-me, como se já soubesse o que o destino lhe reserva. Espero que seja um lugar bem bacana com um chefe da matilha que o aprecie tanto ou mais do que eu.

O bom e velho rock and roll


O show do Aerosmith, que ocorreu em Porto Alegre, entrou para a história. Pelo menos para a minha e para outra dezena de milhares de pessoas que estiveram no estacionamento da Fiergs, na noite de 27 de maio.

No palco, Steve Tyler, Joe Perry e companhia ofereceram uma apresentação impecável, que nem a chuva e alguns problemas técnicos, contornados maravilhosamente pela banda norte-americana, fizeram perder o brilho. Uma coletânea de hits, iniciada após a queda de uma bandeira gigante, desvelando os músicos aos primeiros acordes de Love in elevator.

Como não se emocionar ao ver o sessentão Tyler, com uma forma invejável, roupa brilhante, fazendo caras e bocas, e saudando o público com a frase: “E aí gaúchos?”




Espremida em meio à multidão, sob uma capa de chuva, adquirida no local - por R$ 6,00 - e na ponta dos pés, tentando elevar-me além do meu 1,61 metro, cantei clássicos como Dream on, Sweet emotion e Draw the line. E as maravilhosas baladas Crying, Crazy e I don’t want to miss a thing.

O momento mágico, no entanto, foi assistir à performance de Living on the edge, um dos meus clipes favoritos, que ocupava as primeiras posições da programação nos primórdios da MTV Brasil, no início da década de 90.

Posso dizer que o engarrafamento na free-way, a chuva que não deu trégua, a saída no estacionamento da Fiergs e a banda de abertura, uma tal Santo Graau catarinense, foram um horror.

A atração principal, porém, cuja apresentação teve início pontualmente às 22 horas, valeu cada centavo.

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Frase da noite: Ao comentarmos sobre as qualidades, digamos, físicas do guitarrista Joe Perry, diz minha pupila, Fefa:”Não, ele não dá um caldo ainda. Dá um sopão para alimentar uma família inteira”.

O bom e velho rock and roll!

A noiva da vez

Avessa a certas tradições, nunca desejei entrar numa igreja, vestida de branco, para dizer o sim a alguém em frente a um padre. Por outro lado, se nunca sonhei com uma cerimônia de casamento, aprecio aqueles que tomam essa decisão. Afinal, a-do-ro uma festa!

Bom, a noiva da vez é a minha querida prima e amiga Tati. Deseperada (hehehe), a doida resolveu casar-se no dia 30 de outubro. É, daqui a cinco meses! Correria total para marcar igreja, salão, produzir convites e todas as outras demandas de um evento como esse. Um mutirão de amigos, no qual me incluo, até por ser madrinha, auxiliando a resolver estas questões.

Desejo que tal enlace seja o final feliz desse romance, praticamente uma novela mexicana, repleta de tramas, na qual acompanhei diversos capítulos nos últimos anos.
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P.S: A prova concreta do poder do cinamomo. ;)
Mas outro dia conto essa história.

Em construção

Aqueles que costumam visitar o blog, devem ter notado a mudança no layout. Mas ainda há alterações a fazer, pois, assim como a autora, esse espaço está em constante transformação.

Rural e Contemporâneo


Entre os dias 13 e 16 de maio, Porto Alegre foi palco do Brasil Rural Contemporâneo. A VII Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária, que reúne artesãos e produtores ligados à economia popular, trouxe vida aos armazéns do Cais do Porto. Milhares de pessoas passaram pelo local e deliciaram-se com amostras de geléias, queijos, vinhos, mel, cachaça e tantos outros produtos coloniais e orgânicos à disposição dos visitantes.

Eu me encantei mesmo foi com o artesanato. Peças lindas, únicas e dos mais diversos recantos do Brasil. Impossível não levar alguma para casa. E o que dizer sobre a praça de alimentação, com comidas típicas, debruçada sobre o Guaíba?

Aproveitando os dias de folga, por ser feriado na megalópole hamburguense, desfrutei ao máximo a contemporaneidade rural brasileira. Na culinária, destaco o strognoff de traíra, oferecido na banca da Lagoa dos Patos. E ainda o lanche alemão, servido pelo pessoal de Lomba Grande.

Um mundo à parte, no qual o encontro diário e o clima de integração me lembraram muito o último AIJ (que ocorreu em Lomba Grande, NH). Aliás, foi a oportunidade de rever diversas pessoas que estiveram no acampamento.

Se não bastasse a feira, a programação musical foi extensa. Com shows de Gilberto Gil, Monobloco, Teatro Mágico e Otto, sempre com convidados, e abertura de artistas locais, como Nei Lisboa, Frank Jorge, Júlio Reny, Wander Wildner, Richard Serraria e muitos outros.

Multiculturalismo. Com xote nordestino, maracatu pernambucano, samba carioca, rock gaúcho, sambadeiras do recôncavo baiano e arte circense paulista marcaram os shows diários realizados aos pés da Usina do Gasômetro.

Mistura de estilos e tendências que, cada vez mais, fazem parte da minha vida. De negativo, só o fato de ter acabado tão rápido.

Rir, de acordo com o dicionário, é o ato de contrair os músculos faciais em conseqüência de uma impressão de alegria. Escarnecer, ridicularizar, zombar.

Se rir é o melhor remédio, não há peste bubônica ou vertigem que aguente a superdosagem a qual nos submetemos hoje.

Arroz doce com canela

Se há um doce que definitivamente não me apetece, é o tal arroz-de-leite. Gostaria de saber de quem foi a ideia infame de misturar o cereal, que junto com o feijão é o alimento símbolo do brasileiro, ao leite e açúcar ou a outras variações para torná-lo doce. Pois bem, não é que dia desses sonhei que me fartava com um pratão de arroz doce com canela?

Lembrei-me, entretanto, de uma conversa com uma grande amiga, de tez alva como arroz, e sardenta, como se fosse ela salpicada de canela em pó. Iguaria, que segundo minha querida avó paterna, assemelha-se à cor da minha pele. “Morena cor de canela”.


Falávamos sobre agradáveis misturas: feijão com arroz, café com leite, chocolate com coco, bem-casado e o tal arroz doce com canela (a mim, nada agradável). O claro e o escuro harmônicos. Tal qual preconizou Gilberto Freire no clássico “Casa Grande e Senzala”. Ora, não sejamos hipócritas. A história nos mostra que as relações nunca foram pacíficas. E ainda hoje há resquícios dos absurdos do regime escravocrata.

Aqueles, porém, que se permitem despir dos preconceitos, poderão enxergar as pessoas muito além da cor da pele, dos traços étnicos, da posição social.
Se preto, branco, índio, amarelo, cafuzo, mulato ou mameluco, definitivamente não importa. O essencial é que a receita seja palatável, agrade ao paladar daquele que a experimente. Por mais apurada ou excêntrica que possa parecer.

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*Escrito em 19 de setembro de 2009.

Questão de química


Sou uma mulher das letras, das ciências humanas e sociais, cujo pensamento lógico funciona na velocidade de um 386, com a praticidade do MS-DOS (para aqueles que não conhecem, era o sistema operacional anterior às “maravilhosas” janelas do Bill Gates).

Chego a suar frio só de pensar nos binômios de Newton, logaritmos, nos movimentos retilíneos, circulares, no quadrado da hipotenusa ou qualquer outra fórmula matemática ou física. Há, no entanto, outras ciências que ultimamente têm povoado meus pensamentos: a química e a biologia. Senão pelas peculiaridades das ligações peptídicas ou dos processos de osmose, mas como estas são fundamentais para nossa vida. Tudo que somos ou fazemos tem imbricado um fenômeno químico ou biológico.

Afora isso, elas influenciam diretamente nos relacionamentos interpessoais. Sim, eu creio que gostar ou não de uma pessoa é uma questão de química.

Que venha o inverno!


O inverno deste ano promete ser tão ou mais frio do que o de 2009. Lembro-me bem. Das noites frias e chuvosas regadas a vinho e conversas virtuais. Aos finais de semana, as aulas do pós e o vento cortante no alto do Campus II da Feevale. A noite de sábado, reservada à música brasileira no Dam, na companhia sempre fiel da minha “marida” Tati.

E como nós rimos juntas: do secador de cabelos para aquecer os pés e dos dribles na crise mundial. E, juntas, choramos também. Com a força de Oxum e a serenidade de Iemanjá.

Protagonizamos boas histórias. Pizza e vinho, seguida de karaokê; missão ibéria e até um dia dos namorados na companhia de outras duas mulheres lindas e contemporâneas (as também jornalistas Lú e Dai). Uma coisa é certa. Nos divertimos à beça!






Assim como na natureza, entretanto, à medida em que findava o solstício de inverno, podia-se avistar as novas e belas cores da primavera. Era chegada a hora de sair do casulo, de florescer. Então, guardamos as botas e as roupas pesadas e, assim, com a ajuda do cinamomo, desfizemos nosso breve “casamento”. A amizade e os negócios em comum, porém, permaneceram.

Os dias de calor trouxeram muitas surpresas e mais um bocado de histórias. Algumas já contadas nesse espaço.

Mas como tudo é sazonal e o Rio Grande, o estado brasileiro cujas estações do ano melhor se definem, o frio se aproxima novamente. A diferente consiste, para mim e outras tantas pessoas queridas, na aquisição de um belo cobertor de orelha.

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Entre elas, cito meu pseudo-cunhado e assíduo seguidor deste blog, que na primavera passada encontrou sua flor preferida.

O fim de um ciclo

Na última semana, por razões as quais não me cabe aqui elencar, me desfiz de um bem precioso. Não tanto pelo valor financeiro, bem mais pelo sentimental. Um bem imóvel, que por um tempo fora considerado a minha Pasárgada.

Não era outra civilização, tampouco havia lá um rei que era meu amigo. Mas tinha o cheiro do verde, as plantas que floresciam em todas as épocas do ano, os cachorros correndo ao redor da casa avarandada. Melhor ainda era a sensação de liberdade, sem condomínios ou aluguéis.

A minha Pasárgada se foi, ao menos para mim, e junto com ela as últimas reminiscências de uma vida que passou. Garanto, porém, não estar triste. Pelo contrário, pois se a vida é outra, outros são os objetivos.

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Segue poema do grande Manuel Bandeira.

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo incosenqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’agua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de seu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

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*Agora, minha Pasárgada é outra. Mais urbana e com opções culturais. Onde a cerveja é sempre gelada e as conversas, aquelas de mesa de bar, são fontes de boas histórias.

Pelas Tabelas

Mais uma vez recorro a Chico para revelar meu estado de espírito. Sim, caro amigo, estou literalmente pelas tabelas. Derrubada por uma tendinite no braço esquerdo, contratura muscular na cervical e uma dor de cabeça recorrente. Prescrição médica: uma pilha de remédios + fisioterapia. A isso, soma-se o cansaço pelo excesso de trabalho na Câmara, a correria para dar conta do que antes era feito com o auxílio de mais dois colegas; um freela com muitas demandas, além da monografia de conclusão da especialização em História, Comunicação e Memória do Brasil Contemporâneo.


Mais uma vez também utilizo o período de aula (última disciplina, do curso, por sinal) como momento de inspiração para fluir a escrita. Parece-me o único tempo “livre” de que disponho atualmente. Afora as obrigações profissionais e acadêmicas, há uma série de decisões a serem tomadas, cujas alternativas trarão mudanças.

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Medo ou expectativa?

(Utilizando o mesmo questionamento da minha cara pupila, pois nada é ensinado sem que recebamos algum aprendizado em troca).

O frio na barriga é inerente ao voo rumo ao desconhecido. E de que servem as asas do centauro sagitariano, senão para alçar corpo e alma nas mais diversas direções?


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“Ando com minha cabeça já pelas tabelas
Claro que ninguém se importa com minha aflição

Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela
Eu achei que era ela puxando o cordão

Minha cabeça de noite batendo panelas
Provavelmente não deixa a cidade dormir
Quando vi um bocado de gente
Descendo as favelas
Eu achei que era o povo que vinha pedir”





A hora da verdade

Eis que chegou o momento, o dia D. A hora de dissociar sonho e realidade, de comprovar se todo o esforço valeu a pena.

La Missionera já havia saído do papel. A produção, que durou quase oito horas - mais os 21 dias de fermentação, estava prestes a ser degustada. A primeira leva, com direito a copos personalizados e tudo.

À espera do primeiro gole, era nítido o mesmo brilho no olhar, brindando às amizades e às conquistas finalmente alcançadas. Uma, duas, três garrafas. Muitas fotos e o veredicto: “Ficou boa!” Em meio a sorrisos e divagações, tentava-se transformar aquilo que era perceptível ao paladar em palavras. Amarga, densa, lupulada. Difícil adjetivar sentimentos.

O importante, porém, não era a definição fidedigna, e sim a ideia de pertença. A sensação de dever cumprido. Que não tem preço. Então, é arregaçar as mangas e fabricar mais e mais levas.

E haja produção para tanto consumo!

Pablo, o trovador



Os dias de trabalho têm sido, ultimamente, acompanhados por uma bela trilha sonora: a obra “Echarse a andar” do cantor e compositor argentino Paulo Merletti. O trovador, como ele mesmo se define, foi uma das tantas pessoas bacanas que tive a oportunidade de conhecer no Acampamento Intercontinental da Juventude. O AIJ – 10 anos ocorreu no mês de janeiro, na Sociedade Gaúcha de Lomba Grande, em Novo Hamburgo.

Pablo alegrava o povo do Espaço Aê com suas belas canções, muitas delas com letras de protestos e temas sociais. Apresentou-se também no palco principal do AIJ.

Na correria entre o atendimento à imprensa, a organização e apresentação de boletins na Rádio-poste e os compromissos da vida real, na cidade, pude ainda conferir a musicalidade latina de Pablo misturada ao rap do porto-alegrense Dano ou ao samba dos cariocas.

Do cd em questão destaco as músicas “Mendigo” e “Te fuiste a andar”. Lembro-me ainda da bela versão de “Redemption Song”, do Bob Marley, para o espanhol. Não está no disco, mas o vi tocar alguma vezes.

Abaixo, a dedicatória que escreveu no meu disco:

“Para dos grandes cumpas com los que compartimos el foro 2010. Ojalá que estas musicas aconpañen sus luchas cotidianas”.

Para saber mais: www.pablomerletti.com.ar

Recomendo!

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Não há como lembrar de Pablo sem falar na sua bela e queridíssima namorada, Verónica. Outra hora conto mais sobre ela.

Um novo sentido

Significante e significado. A semântica das coisas, das palavras, dos sentimentos. Aquilo que não pode ser dito. A ideia latente, saltando aos olhos. Reminiscências de vidas passadas. Esvaídas, esvaziadas. O que é melhor? A verdade em doses homeopáticas ou a enxurrada dos fatos que tudo leva e renova como uma chuva de verão?

Um ano se passou. Eis que a vida segue, curiosamente feliz. As lembranças, cada vez mais vagas, substituídas por outras mais ricas, interessantes e coloridas. Um brinde à nova vida e a todos que de certa maneira fazem parte dela.


“E nada como um dia após o outro dia
Pro meu coração...”


*Salve Chico! Procurei diversas letras para esse momento. Mas esta, certamente, é a que mais se encaixa.

Café no balcão*


Café preto e um pão de queijo. Esse foi o cardápio de um desjejum atípico, pelo menos nos últimos anos. A novidade não eram os ingredientes, mas o local. Uma padaria, daquelas com cara de boteco, que nos remete há outros tempos. O pedido atendido com um sorriso no rosto e a fugacidade de consumir ali mesmo no balcão. Nem por isso, faltou tempo para voarem os pensamentos. A cena anunciou um bom começo de semana. Dias atribulados que virão.

Ao sair, o sol entre nuvens, avistei o Monumento ao Expedicionário. Ai que saudades da minha terra. Sim, eu sou da capital. Lembrei-me dos tempos de infância. O bicicletário da Redenção e a casa dos avós a poucas quadras.

Dizem que os gaúchos são bairristas, mas os porto-alegrenses... Ah, esses, com certeza, muito mais. Tenho saudades até de andar de ônibus em Porto Alegre! Desse ar de província que certos pontos da cidade ainda reservam. E, principalmente, por ser grande o bastante para abraçar a todos. Por não ter uma cara pseudo-homogênea de etnia germânica, gringa ou qualquer que seja. E por não ter um ranço desse ou daquele sobrenome.

Porto Alegre das praças, dos parques, do pôr-do-sol no Guaíba, da Casa de Cultura Mario Quintana, do viaduto da Borges, da Rua da Praia muito longe do mar. A pequena-grande cidade onde nasci e cresci. E sempre desejo voltar.

*Escrito numa segunda-feira de inverno, entre agosto e setembro de 2009.

Ordem do Dia

Difícil é definir de forma objetiva o que é felicidade. Quando e porque ela surge ou como pode nos deixar repentinamente. A fórmula, a priori, parece simples, como um mais um. A questão é que a conta nem sempre fecha, pois ao contrário da exatidão matemática, somos complexos e o resultado depende de muitas variáveis. Então, quando ela aparece, resta-nos aproveitar.

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Algumas pessoas preferem meias-verdades a uma mentira inteira. Eu, por princípio, quero distância de tudo que soe falso.

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Incrível como tudo é sazonal. Um texto escrito há mais de um mês pode se encaixar perfeitamento ao atual momento.

Vem aí: La Missionera



Um sonho antigo, acalentado por um grupo de amigos, finalmente começa a se tornar realidade. Aos vinte e oito dias do mês de fevereiro (parafraseando a ata que deveria ter sido feita e não foi), La Missionera sai do papel ou, mais precisamente, do imaginário desses jovens adoradores do líquido precioso.

A fabricação de cerveja artesanal requer tempo e paciência. No domingo em questão, o processo durou cerca de oito horas, desde a moagem do malte até o último resfriamento e o início da fermentação.

Dava para ver o brilho nos olhos e a ansiedade a cada etapa do processo. Em pouco tempo, Los Comacheros, confraria de cervejeiros provenientes das Missões gaúchas, não só se reunirão para apreciar, degustar e principalmente conversar sobre cerveja, como poderão consumir seus próprio produto.

Depois de acompanhar de perto a feitura de La Missionera, só tenho a desejar boa sorte aos meninos e aguardar os 15 dias que faltam para poder experimentá-la. E posso afirmar que passei a dar mais valor (ainda) à união de ingredientes: malte, lúpulo, fermento e água. A alquimia perfeita. Plagiando o antigo slogan de um exemplar da espécie (de qualidade, digamos, duvidosa): Ou seja, cerveja.

Que venha La Missionera!

Escrever é físico

Matéria publicada no Segundo Caderno de Zero Hora, na edição de 20 de fevereiro, trouxe o depoimento de diversos escritores sobre o ato de escrever. Dentre eles, o que mais me chamou a atenção foi o escritor norte-americano Paul Auster. Algo de identificação, pois também acredito que a escrita, a boa escrita, provém de muito trabalho. É a labuta diária do jornalista, do escritor.


“Para mim, escrever é físico. Sempre tenho a impressão de que as palavras estão saindo do meu corpo e não apenas da minha mente. Eu escrevo à mão e a caneta está arranhando as palavras na página. Posso até ouvir as palavras sendo escritas. Muito do esforço em escrever prosa, para mim, está ligado a criar sentenças que capturem a música que ouço na minha cabeça. Demanda um bocado de trabalho, escrever, escrever e reescrever até captar a música exatamente como você quer que ela seja. Essa música é uma força física. Você não apenas escreve livros fisicamente, mas também os lê fisicamente. Há algo sobre os ritmos da linguagem que corresponde aos ritmos dos nossos próprios corpos” Paul Auster


A única diferença, claro além de não ser autora de best-selleres, é que no meu caso costumo trocar a caneta pelo bom e velho lápis.

Mago dos Sons


O carnaval sempre rende boas histórias. Quando a elas se junta uma trilha sonora, então. Foi o que aconteceu na terça-feira gorda, quando nos deparamos com um atelier de instrumentos musicais na estrada próxima à praia da Armação. O lugar simples abriga uma figuraça chamada Crono. De nacionalidade indefinida, que suscita dúvidas pelo sotaque castelhano, diz-se nativo da ilha.

Não poderíamos ter sido mais bem recebidos. À disposição uma grande quantidade de instrumentos de percussão. Todos produzidos manualmente pelo próprio Crono mais dois ou três ajudantes. Tambores, pandeiros, afoxés, berimbaus e tantos outros. Cada um com uma sonoridade diferente e bela. Ou exótica como a do violino africano. Um encanto!

Depois de uma batucada coletiva, nos despedimos do mago dos sons e voltamos para casa com gostinho de quero mais.

Ah! O doc-músico-produtor não resistiu e levou um deles. O nome eu não sei, mas o efeito de reproduzir o barulho de tempestade é incrível.

Um paraíso chamado Lagoinha do Leste



Uma hora e meia de caminhada em meio a uma mata fechada e muito calor. Este é o ônus para se chegar a um pequeno paraíso chamado Lagoinha do Leste. A praia, uma das tantas localizadas em Florianópolis, fica na parte sul da ilha e só é acessível por trilha com saída da Armação ou de Pântano do Sul. Escolhemos a segunda opção. Depois de um trecho bastante árduo, de subida e descida íngremes, a paisagem é recompensadora.

No topo do morro, um mirante proporciona vista privilegiada do mar do Pântano do Sul. Abaixo, podemos avistar o destino: Lagoinha do Leste. Uma praia peculiar onde o banhista pode trocar o mar geladíssimo, naquela segunda de carnaval em torno de dez graus, pelas águas de temperatura amena da lagoa, cuja quantidade de cardumes tanto de pequenos peixinhos quanto de outros um pouco maiores fizeram a diversão das crianças (todas balzaquianas ou próximas a isso). Lembrei da frase de um amigo recente que conheci no acampamento da juventude: “Me encontrei naquele lugar”. E não é difícil!

Mais uma bela surpresa da Ilha da Magia. Sem ambulantes, jogo de bola ou pestinhas te jogando areia. Um paraíso, simplesmente.
O sonho de todo o porto-alegrense é passar o carnaval na praia. Ainda mais se o mar estiver além das fronteiras do nosso rincão. Ficar alguns dias na bela ilha catarinense, porém, tornou-se um tormento. Para ir a Floripa, distante 450 quilômetros da capital gaúcha, desperdiça-se mais de dez horas. Bom, mas é claro que a água límpida e as belas paisagens de Santa nos fazem superar o trauma.

As demais histórias referentes aos dias da folia de Momo serão contadas em breve.

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P.S: Mais arrastada que a viagem só mesmo as obras da BR101. Ô presidente, tá de doer, né.