A hora da verdade

Eis que chegou o momento, o dia D. A hora de dissociar sonho e realidade, de comprovar se todo o esforço valeu a pena.

La Missionera já havia saído do papel. A produção, que durou quase oito horas - mais os 21 dias de fermentação, estava prestes a ser degustada. A primeira leva, com direito a copos personalizados e tudo.

À espera do primeiro gole, era nítido o mesmo brilho no olhar, brindando às amizades e às conquistas finalmente alcançadas. Uma, duas, três garrafas. Muitas fotos e o veredicto: “Ficou boa!” Em meio a sorrisos e divagações, tentava-se transformar aquilo que era perceptível ao paladar em palavras. Amarga, densa, lupulada. Difícil adjetivar sentimentos.

O importante, porém, não era a definição fidedigna, e sim a ideia de pertença. A sensação de dever cumprido. Que não tem preço. Então, é arregaçar as mangas e fabricar mais e mais levas.

E haja produção para tanto consumo!

Pablo, o trovador



Os dias de trabalho têm sido, ultimamente, acompanhados por uma bela trilha sonora: a obra “Echarse a andar” do cantor e compositor argentino Paulo Merletti. O trovador, como ele mesmo se define, foi uma das tantas pessoas bacanas que tive a oportunidade de conhecer no Acampamento Intercontinental da Juventude. O AIJ – 10 anos ocorreu no mês de janeiro, na Sociedade Gaúcha de Lomba Grande, em Novo Hamburgo.

Pablo alegrava o povo do Espaço Aê com suas belas canções, muitas delas com letras de protestos e temas sociais. Apresentou-se também no palco principal do AIJ.

Na correria entre o atendimento à imprensa, a organização e apresentação de boletins na Rádio-poste e os compromissos da vida real, na cidade, pude ainda conferir a musicalidade latina de Pablo misturada ao rap do porto-alegrense Dano ou ao samba dos cariocas.

Do cd em questão destaco as músicas “Mendigo” e “Te fuiste a andar”. Lembro-me ainda da bela versão de “Redemption Song”, do Bob Marley, para o espanhol. Não está no disco, mas o vi tocar alguma vezes.

Abaixo, a dedicatória que escreveu no meu disco:

“Para dos grandes cumpas com los que compartimos el foro 2010. Ojalá que estas musicas aconpañen sus luchas cotidianas”.

Para saber mais: www.pablomerletti.com.ar

Recomendo!

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Não há como lembrar de Pablo sem falar na sua bela e queridíssima namorada, Verónica. Outra hora conto mais sobre ela.

Um novo sentido

Significante e significado. A semântica das coisas, das palavras, dos sentimentos. Aquilo que não pode ser dito. A ideia latente, saltando aos olhos. Reminiscências de vidas passadas. Esvaídas, esvaziadas. O que é melhor? A verdade em doses homeopáticas ou a enxurrada dos fatos que tudo leva e renova como uma chuva de verão?

Um ano se passou. Eis que a vida segue, curiosamente feliz. As lembranças, cada vez mais vagas, substituídas por outras mais ricas, interessantes e coloridas. Um brinde à nova vida e a todos que de certa maneira fazem parte dela.


“E nada como um dia após o outro dia
Pro meu coração...”


*Salve Chico! Procurei diversas letras para esse momento. Mas esta, certamente, é a que mais se encaixa.

Café no balcão*


Café preto e um pão de queijo. Esse foi o cardápio de um desjejum atípico, pelo menos nos últimos anos. A novidade não eram os ingredientes, mas o local. Uma padaria, daquelas com cara de boteco, que nos remete há outros tempos. O pedido atendido com um sorriso no rosto e a fugacidade de consumir ali mesmo no balcão. Nem por isso, faltou tempo para voarem os pensamentos. A cena anunciou um bom começo de semana. Dias atribulados que virão.

Ao sair, o sol entre nuvens, avistei o Monumento ao Expedicionário. Ai que saudades da minha terra. Sim, eu sou da capital. Lembrei-me dos tempos de infância. O bicicletário da Redenção e a casa dos avós a poucas quadras.

Dizem que os gaúchos são bairristas, mas os porto-alegrenses... Ah, esses, com certeza, muito mais. Tenho saudades até de andar de ônibus em Porto Alegre! Desse ar de província que certos pontos da cidade ainda reservam. E, principalmente, por ser grande o bastante para abraçar a todos. Por não ter uma cara pseudo-homogênea de etnia germânica, gringa ou qualquer que seja. E por não ter um ranço desse ou daquele sobrenome.

Porto Alegre das praças, dos parques, do pôr-do-sol no Guaíba, da Casa de Cultura Mario Quintana, do viaduto da Borges, da Rua da Praia muito longe do mar. A pequena-grande cidade onde nasci e cresci. E sempre desejo voltar.

*Escrito numa segunda-feira de inverno, entre agosto e setembro de 2009.

Ordem do Dia

Difícil é definir de forma objetiva o que é felicidade. Quando e porque ela surge ou como pode nos deixar repentinamente. A fórmula, a priori, parece simples, como um mais um. A questão é que a conta nem sempre fecha, pois ao contrário da exatidão matemática, somos complexos e o resultado depende de muitas variáveis. Então, quando ela aparece, resta-nos aproveitar.

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Algumas pessoas preferem meias-verdades a uma mentira inteira. Eu, por princípio, quero distância de tudo que soe falso.

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Incrível como tudo é sazonal. Um texto escrito há mais de um mês pode se encaixar perfeitamento ao atual momento.

Vem aí: La Missionera



Um sonho antigo, acalentado por um grupo de amigos, finalmente começa a se tornar realidade. Aos vinte e oito dias do mês de fevereiro (parafraseando a ata que deveria ter sido feita e não foi), La Missionera sai do papel ou, mais precisamente, do imaginário desses jovens adoradores do líquido precioso.

A fabricação de cerveja artesanal requer tempo e paciência. No domingo em questão, o processo durou cerca de oito horas, desde a moagem do malte até o último resfriamento e o início da fermentação.

Dava para ver o brilho nos olhos e a ansiedade a cada etapa do processo. Em pouco tempo, Los Comacheros, confraria de cervejeiros provenientes das Missões gaúchas, não só se reunirão para apreciar, degustar e principalmente conversar sobre cerveja, como poderão consumir seus próprio produto.

Depois de acompanhar de perto a feitura de La Missionera, só tenho a desejar boa sorte aos meninos e aguardar os 15 dias que faltam para poder experimentá-la. E posso afirmar que passei a dar mais valor (ainda) à união de ingredientes: malte, lúpulo, fermento e água. A alquimia perfeita. Plagiando o antigo slogan de um exemplar da espécie (de qualidade, digamos, duvidosa): Ou seja, cerveja.

Que venha La Missionera!