Que venha o inverno!


O inverno deste ano promete ser tão ou mais frio do que o de 2009. Lembro-me bem. Das noites frias e chuvosas regadas a vinho e conversas virtuais. Aos finais de semana, as aulas do pós e o vento cortante no alto do Campus II da Feevale. A noite de sábado, reservada à música brasileira no Dam, na companhia sempre fiel da minha “marida” Tati.

E como nós rimos juntas: do secador de cabelos para aquecer os pés e dos dribles na crise mundial. E, juntas, choramos também. Com a força de Oxum e a serenidade de Iemanjá.

Protagonizamos boas histórias. Pizza e vinho, seguida de karaokê; missão ibéria e até um dia dos namorados na companhia de outras duas mulheres lindas e contemporâneas (as também jornalistas Lú e Dai). Uma coisa é certa. Nos divertimos à beça!






Assim como na natureza, entretanto, à medida em que findava o solstício de inverno, podia-se avistar as novas e belas cores da primavera. Era chegada a hora de sair do casulo, de florescer. Então, guardamos as botas e as roupas pesadas e, assim, com a ajuda do cinamomo, desfizemos nosso breve “casamento”. A amizade e os negócios em comum, porém, permaneceram.

Os dias de calor trouxeram muitas surpresas e mais um bocado de histórias. Algumas já contadas nesse espaço.

Mas como tudo é sazonal e o Rio Grande, o estado brasileiro cujas estações do ano melhor se definem, o frio se aproxima novamente. A diferente consiste, para mim e outras tantas pessoas queridas, na aquisição de um belo cobertor de orelha.

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Entre elas, cito meu pseudo-cunhado e assíduo seguidor deste blog, que na primavera passada encontrou sua flor preferida.

O fim de um ciclo

Na última semana, por razões as quais não me cabe aqui elencar, me desfiz de um bem precioso. Não tanto pelo valor financeiro, bem mais pelo sentimental. Um bem imóvel, que por um tempo fora considerado a minha Pasárgada.

Não era outra civilização, tampouco havia lá um rei que era meu amigo. Mas tinha o cheiro do verde, as plantas que floresciam em todas as épocas do ano, os cachorros correndo ao redor da casa avarandada. Melhor ainda era a sensação de liberdade, sem condomínios ou aluguéis.

A minha Pasárgada se foi, ao menos para mim, e junto com ela as últimas reminiscências de uma vida que passou. Garanto, porém, não estar triste. Pelo contrário, pois se a vida é outra, outros são os objetivos.

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Segue poema do grande Manuel Bandeira.

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo incosenqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’agua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de seu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

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*Agora, minha Pasárgada é outra. Mais urbana e com opções culturais. Onde a cerveja é sempre gelada e as conversas, aquelas de mesa de bar, são fontes de boas histórias.

Pelas Tabelas

Mais uma vez recorro a Chico para revelar meu estado de espírito. Sim, caro amigo, estou literalmente pelas tabelas. Derrubada por uma tendinite no braço esquerdo, contratura muscular na cervical e uma dor de cabeça recorrente. Prescrição médica: uma pilha de remédios + fisioterapia. A isso, soma-se o cansaço pelo excesso de trabalho na Câmara, a correria para dar conta do que antes era feito com o auxílio de mais dois colegas; um freela com muitas demandas, além da monografia de conclusão da especialização em História, Comunicação e Memória do Brasil Contemporâneo.


Mais uma vez também utilizo o período de aula (última disciplina, do curso, por sinal) como momento de inspiração para fluir a escrita. Parece-me o único tempo “livre” de que disponho atualmente. Afora as obrigações profissionais e acadêmicas, há uma série de decisões a serem tomadas, cujas alternativas trarão mudanças.

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Medo ou expectativa?

(Utilizando o mesmo questionamento da minha cara pupila, pois nada é ensinado sem que recebamos algum aprendizado em troca).

O frio na barriga é inerente ao voo rumo ao desconhecido. E de que servem as asas do centauro sagitariano, senão para alçar corpo e alma nas mais diversas direções?


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“Ando com minha cabeça já pelas tabelas
Claro que ninguém se importa com minha aflição

Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela
Eu achei que era ela puxando o cordão

Minha cabeça de noite batendo panelas
Provavelmente não deixa a cidade dormir
Quando vi um bocado de gente
Descendo as favelas
Eu achei que era o povo que vinha pedir”