Com o recurso de panorâmica dá para fazer umas fotos bem legais. Todas essas, porém, têm o mesmo crédito: André Ferreira. Não consegui coordenar muito bem o ponto de junção das imagens. |
Lápis e papel na mão: eis a prova |
Assim, quase que sem querer, vamos tecendo nossas redes. Teias de amigos, de trabalho, de interesses. Uma frase batida, mas que sempre faz sentido: “nada é por acaso”. Embora, a princípio, possamos não entender aquilo que nos cabe, sempre há um porquê, algo implícito.
A mola propulsora que nos faz seguir adiante, estabelecer contatos e que não deixa arrefecer aquela rede que com tanto custo construímos. E isso, meus amigos, pode ser a carta na manga que vai te salvar do desemprego, de uma pauta que não rendeu o suficiente e até mesmo de um final de semana de solidão. Afinal para que servem os amigos?
Fundamental é fazer o encadeamento constante de histórias e interesses.
Eu me encantei mesmo foi com o artesanato. Peças lindas, únicas e dos mais diversos recantos do Brasil. Impossível não levar alguma para casa. E o que dizer sobre a praça de alimentação, com comidas típicas, debruçada sobre o Guaíba?
Aproveitando os dias de folga, por ser feriado na megalópole hamburguense, desfrutei ao máximo a contemporaneidade rural brasileira. Na culinária, destaco o strognoff de traíra, oferecido na banca da Lagoa dos Patos. E ainda o lanche alemão, servido pelo pessoal de Lomba Grande.
Um mundo à parte, no qual o encontro diário e o clima de integração me lembraram muito o último AIJ (que ocorreu em Lomba Grande, NH). Aliás, foi a oportunidade de rever diversas pessoas que estiveram no acampamento.
Se não bastasse a feira, a programação musical foi extensa. Com shows de Gilberto Gil, Monobloco, Teatro Mágico e Otto, sempre com convidados, e abertura de artistas locais, como Nei Lisboa, Frank Jorge, Júlio Reny, Wander Wildner, Richard Serraria e muitos outros.
Multiculturalismo. Com xote nordestino, maracatu pernambucano, samba carioca, rock gaúcho, sambadeiras do recôncavo baiano e arte circense paulista marcaram os shows diários realizados aos pés da Usina do Gasômetro.
Mistura de estilos e tendências que, cada vez mais, fazem parte da minha vida. De negativo, só o fato de ter acabado tão rápido.
E como nós rimos juntas: do secador de cabelos para aquecer os pés e dos dribles na crise mundial. E, juntas, choramos também. Com a força de Oxum e a serenidade de Iemanjá.
Protagonizamos boas histórias. Pizza e vinho, seguida de karaokê; missão ibéria e até um dia dos namorados na companhia de outras duas mulheres lindas e contemporâneas (as também jornalistas Lú e Dai). Uma coisa é certa. Nos divertimos à beça!
Assim como na natureza, entretanto, à medida em que findava o solstício de inverno, podia-se avistar as novas e belas cores da primavera. Era chegada a hora de sair do casulo, de florescer. Então, guardamos as botas e as roupas pesadas e, assim, com a ajuda do cinamomo, desfizemos nosso breve “casamento”. A amizade e os negócios em comum, porém, permaneceram.
Os dias de calor trouxeram muitas surpresas e mais um bocado de histórias. Algumas já contadas nesse espaço.
Mas como tudo é sazonal e o Rio Grande, o estado brasileiro cujas estações do ano melhor se definem, o frio se aproxima novamente. A diferente consiste, para mim e outras tantas pessoas queridas, na aquisição de um belo cobertor de orelha.
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Entre elas, cito meu pseudo-cunhado e assíduo seguidor deste blog, que na primavera passada encontrou sua flor preferida.
Mais uma vez recorro a Chico para revelar meu estado de espírito. Sim, caro amigo, estou literalmente pelas tabelas. Derrubada por uma tendinite no braço esquerdo, contratura muscular na cervical e uma dor de cabeça recorrente. Prescrição médica: uma pilha de remédios + fisioterapia. A isso, soma-se o cansaço pelo excesso de trabalho na Câmara, a correria para dar conta do que antes era feito com o auxílio de mais dois colegas; um freela com muitas demandas, além da monografia de conclusão da especialização em História, Comunicação e Memória do Brasil Contemporâneo.
Mais uma vez também utilizo o período de aula (última disciplina, do curso, por sinal) como momento de inspiração para fluir a escrita. Parece-me o único tempo “livre” de que disponho atualmente. Afora as obrigações profissionais e acadêmicas, há uma série de decisões a serem tomadas, cujas alternativas trarão mudanças.
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Medo ou expectativa?
(Utilizando o mesmo questionamento da minha cara pupila, pois nada é ensinado sem que recebamos algum aprendizado em troca).
O frio na barriga é inerente ao voo rumo ao desconhecido. E de que servem as asas do centauro sagitariano, senão para alçar corpo e alma nas mais diversas direções?
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“Ando com minha cabeça já pelas tabelas
Claro que ninguém se importa com minha aflição
Quando vi todo mundo na rua de blusa amarela
Eu achei que era ela puxando o cordão
Minha cabeça de noite batendo panelas
Provavelmente não deixa a cidade dormir
Quando vi um bocado de gente
Descendo as favelas
Eu achei que era o povo que vinha pedir”
La Missionera já havia saído do papel. A produção, que durou quase oito horas - mais os 21 dias de fermentação, estava prestes a ser degustada. A primeira leva, com direito a copos personalizados e tudo.
À espera do primeiro gole, era nítido o mesmo brilho no olhar, brindando às amizades e às conquistas finalmente alcançadas. Uma, duas, três garrafas. Muitas fotos e o veredicto: “Ficou boa!” Em meio a sorrisos e divagações, tentava-se transformar aquilo que era perceptível ao paladar em palavras. Amarga, densa, lupulada. Difícil adjetivar sentimentos.
O importante, porém, não era a definição fidedigna, e sim a ideia de pertença. A sensação de dever cumprido. Que não tem preço. Então, é arregaçar as mangas e fabricar mais e mais levas.
E haja produção para tanto consumo!
Pablo alegrava o povo do Espaço Aê com suas belas canções, muitas delas com letras de protestos e temas sociais. Apresentou-se também no palco principal do AIJ.
Na correria entre o atendimento à imprensa, a organização e apresentação de boletins na Rádio-poste e os compromissos da vida real, na cidade, pude ainda conferir a musicalidade latina de Pablo misturada ao rap do porto-alegrense Dano ou ao samba dos cariocas.
Do cd em questão destaco as músicas “Mendigo” e “Te fuiste a andar”. Lembro-me ainda da bela versão de “Redemption Song”, do Bob Marley, para o espanhol. Não está no disco, mas o vi tocar alguma vezes.
Abaixo, a dedicatória que escreveu no meu disco:
“Para dos grandes cumpas com los que compartimos el foro 2010. Ojalá que estas musicas aconpañen sus luchas cotidianas”.
Para saber mais: www.pablomerletti.com.ar
Recomendo!
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Não há como lembrar de Pablo sem falar na sua bela e queridíssima namorada, Verónica. Outra hora conto mais sobre ela.
Significante e significado. A semântica das coisas, das palavras, dos sentimentos. Aquilo que não pode ser dito. A ideia latente, saltando aos olhos. Reminiscências de vidas passadas. Esvaídas, esvaziadas. O que é melhor? A verdade em doses homeopáticas ou a enxurrada dos fatos que tudo leva e renova como uma chuva de verão?
Um ano se passou. Eis que a vida segue, curiosamente feliz. As lembranças, cada vez mais vagas, substituídas por outras mais ricas, interessantes e coloridas. Um brinde à nova vida e a todos que de certa maneira fazem parte dela.
“E nada como um dia após o outro dia
Pro meu coração...”
Café preto e um pão de queijo. Esse foi o cardápio de um desjejum atípico, pelo menos nos últimos anos. A novidade não eram os ingredientes, mas o local. Uma padaria, daquelas com cara de boteco, que nos remete há outros tempos. O pedido atendido com um sorriso no rosto e a fugacidade de consumir ali mesmo no balcão. Nem por isso, faltou tempo para voarem os pensamentos. A cena anunciou um bom começo de semana. Dias atribulados que virão.
Ao sair, o sol entre nuvens, avistei o Monumento ao Expedicionário. Ai que saudades da minha terra. Sim, eu sou da capital. Lembrei-me dos tempos de infância. O bicicletário da Redenção e a casa dos avós a poucas quadras.
Dizem que os gaúchos são bairristas, mas os porto-alegrenses... Ah, esses, com certeza, muito mais. Tenho saudades até de andar de ônibus em Porto Alegre! Desse ar de província que certos pontos da cidade ainda reservam. E, principalmente, por ser grande o bastante para abraçar a todos. Por não ter uma cara pseudo-homogênea de etnia germânica, gringa ou qualquer que seja. E por não ter um ranço desse ou daquele sobrenome.
Porto Alegre das praças, dos parques, do pôr-do-sol no Guaíba, da Casa de Cultura Mario Quintana, do viaduto da Borges, da Rua da Praia muito longe do mar. A pequena-grande cidade onde nasci e cresci. E sempre desejo voltar.
*Escrito numa segunda-feira de inverno, entre agosto e setembro de 2009.