É Primavera (vai chuva)

Insosso. Este é o adjetivo que define os últimos dias do finado inverno 2010, que felizmente se encerrou nesta chuvosa quinta-feira, 23. Embora a primavera não tenha dado o ar de sua graça, sei que não tardará. Logo os dias serão maiores do que as noites, Ipês roxos e amarelos se encherão de flores e os Jacarandás da Praça da Alfândega anunciarão a proximidade de mais uma Feira do Livro.

A cada ano, o inverno me é mais incômodo, com suas tediosas tardes cinzentas e finais de semanas inteiros de aguaceiro. Chuva que não acaba mais. Deixando o clima de lado, há também uma série de por fazeres que, certamente, trariam mais sabor às inúmeras horas perdidas, em que a preguiça impera.

Agora, entretanto, tudo será diferente! É tempo de tirar o mofo e de guardar as roupas de lã na barrica. De sentir o perfume dos lírios e admirar as cores das rosas, azaléias, três marias e tantas outras flores. De ajustar os ponteiros para o horário de verão, de comemorar a chegada das férias e de mais um recesso parlamentar na megalópole hamburguense (se Jesus permitir, é claro).


Há também os planos. Aqueles que hibernaram durante meses e que agora estão prontos a serem executados, seja no sentido de realizá-los ou de assassiná-los de vez.
O inverno acabou. Resta agora cessarem as chuvas. Aquelas que tornam a empoçar sentimentos, represados em meio a precipitações e lágrimas. Sensação de déjà vu ou apenas rabugice de estar úmido até os ossos?

Tempo de minh'alma

Em meio a teses, histórias e historiografia acerca do jornalismo, os pensamentos correm à solta. Vem-me a reflexão dos dias frios e chuvosos que antecederam as férias. Ora, o tempo continua instável. Na última semana teve variação de mais de 20 graus. O tempo da minha alma, porém, é outro. Bem mais leve e ensolarado que outrora.

Tudo o que antes me era incômodo agora jaz no fundo das gavetas. Não em espaços físicos, mas naquelas que ficam devidamente arquivadas nos confins da nossa mente. De acesso mais difícil e atribuição de aos poucos transformar lembranças em imagens insípidas, incolores e inodoras.

As aulas me inspiram. Suscitam a vontade de externar o que dificilmente se revela verbalmente. Mas, de acordo com minhas queridas convivas, através de olhares ou caras de incógnita. Entre risos e letras de música que, diga-se de passagem, situam-se na prateleira mais acessível e estão sempre ao meu alcance.

Volto ao convívio acadêmico tal qual a criança que retorna das férias (passadas em alguma praia, fazenda ou na casa dos avós) cheia de histórias felizes, curiosas, engraçadas e até ridículas. Muitas delas com o mesmo viés infantil de início, meio e fim. Outras, entretanto, que certamente terão desdobramentos.

*Escrito em 21 de agosto de 2009.