Sentimentos empoçados*

O sol que nos fortalece e ilumina há dias não aparece por aqui. Chove sem parar nas proximidades do paralelo 30. Chuva que angustia e empoça sentimentos.

Os dias cinzentos e úmidos nos faz mais sisudos. As tardes enfadonhas arrastam-se como a precipitação que se derrama dia após dias. Não há bom humor que resista a tanta água jorrando do céu.Um, dois dias vá lá. De preferência que não seja preciso sair de casa.

O calor das cobertas, pipoca, chocolate quente. Um pé sobre o outro, ou melhor, um par sobre outro para aquecer o corpo e a alma. Amenizando, assim, o desejo de fugir para algum lugar ensolarado, com as cores de eterno verão.

*Inverno de 2009

As coisas do pago

Que bom estar de volta e poder matar a saudade das coisas do meu rincão. Difícil passar alguns dias longe de casa sem o kit básico de sobrevivência do gaúcho: cuia, bomba e erva. Como nos versos de João da Cunha Vargas, musicados por Vitor Ramil, “quem te inventou foi pra o céu e te deixou para o Rio Grande.”


Velho porongo crioulo,
Te conheci no galpão,
Trazendo meu chimarrão
Com cheirinho de fumaça,
Bebida amarga da raça
Que adoça o meu coração.


Bomba de prata cravada,
Junto ao açude do pago,
Quanta china ou índio vago
Da água seu pensamento
De alegria, sofrimento,
De desengano ou afago.


Te vejo na lata de erva
Toda coberta de poeira,
Na mão da china faceira
Ou derredor do fogão,
Debruçado num tição
Ou recostado à chaleira.


Me acotovelo no joelho,
Me sento sobre o garrão
Ao pé do fogo de chão,
Vou repassando a memória
E não encontro na história
Quem te inventou, chimarrão.


Foi índio de pêlo duro,
Quando pisou neste pago,
Louco pra tomar um trago,
Trazia seca a garganta,
Provando a folha da planta,
Foi quem te fez mate-amargo.


Foste bebida selvagem
E hoje és tradição,
E só tu, meu chimarrão,
Que o gaúcho não despreza
Porque és o livro de reza
Que rezo junto ao fogão.

Embora frio ou lavado,
Ou que teu topete desande,
Minha alegria se espande
Ao ver-te assim meu troféu,
Quem te inventou foi pra o céu
E te deixou para o Rio Grande.

Tudo ao mesmo tempo agora!

Da manhã fria e nublada, após uma conexão em Garulhos e uma variação térmica de uns 20ºC, eis que, em meio a um jogo da seleção, chego a Ribeirão Preto. A cidade, distante cerca de 330 quilômetros da capital paulista, sedia, entre os dias 23 e 24 de junho, o Congresso Sindag 2010, maior evento da aviação agrícola brasileira.

Essa semana promete! Entre segunda e terça, acontece o 1º Workshop de Gestão Aeroagrícola, depois o congresso. Retorno à terrinha apenas na sexta, também durante uma partida do escrete canarinho.

Como ainda não usei este espaço para falar sobre meu(s) trabalho(s), vou explicar. Desde 2007, atuo como assessora de imprensa da Câmara Municipal de Novo Hamburgo. Lá, além do atendimento aos jornalistas, somos responsáveis pelo site http://www.camaranh.rs.gov.br/, pelo jornal impresso Câmara Notícias e pela TV Câmara, na qual concentro a maior parte da minha atenção, mas, no momento, por motivos, digamos, políticos, está temporariamente fora do ar.

Meu provedor oficial de recursos, na AI tive a sorte de conhecer pessoas especiais: as tambéms jornalistas Maíra Kiefer, Tati Lopes e Melissa Barbosa. Além das futuras troca-letras Daiane Pires e Fefa Feltes, minha querida pupila. Mais um monte de gente que nem daria para nominar. Há também a experiente Magda Wagner, coordenadora daquele pequeno hospício em que estou inserida.

O trabalho em NH rendeu parcerias. Entre elas, o atendimento ao Sindag, que minha amiga Tati e eu iniciamos no ano passado. Por esse motivo, estou agora em Ribeirão Preto.

Sigo assim. Dividida entre a política hamburguense, a aviação agrícola, o pós em História e Comunicação. Este um capítulo à parte, pois entre uma atividade e outra tento concentrar-me na escrita da monografia de conclusão do curso, que trata de cinema e imaginário, cujo prazo de entrega extingue-se em breve.

Em meio a isso, tento não me preocupar com as questões domésticas referentes a uma mudança de cidade, o que deve acontecer nas próximas semanas. Tudo ao mesmo tempo agora.

Então, fé em Deus e pé na tábua! Ou, como diriam os Tribalistas, "pé em Deus e fé na taba".

Noite de São João

O dia dos namorados, este ano, teve uma programação mais do que especial. Começou com uma jantinha na sexta. No sábado, um esquenta no Bier Market, com direito a cervejas especiais, e depois o show do Vitor Ramil, meu presente para o Dé.

Após a novela da aquisição dos ingressos, assistimos à Delibáb, o novo show de Ramil com as músicas do álbum homônimo, que traz canções inspiradas em poemas do argentino Jorge Luis Borges e do brasileiro João da Cunha Vargas. Ambos completariam 110 anos em 2009 e 2010 respectivamente.

No palco, acompanhando o caçula dos Ramil, o violonista argentino Carlos Moscardini. Um show que impressiona pela qualidade dos músicos e pelas belíssimas letras dos poetas. Milongas tocadas lindamente a dois violões.

Soma-se a isso o fator emocional. Afinal, posso dizer que o cantor pelotense sempre foi a trilha sonora desse romance, iniciado numa fria noite de julho. Então, quando no bis ele anunciou que cantaria Noite de São João, não pude conter as lágrimas.



Creio que é hora de sair da casca. De me despir de conceitos ou pré-conceitos. E falar aos quatro ventos: nada como uma boa companhia para curtir essa data, que pode ser comercial, mas sempre nos causa algum impacto.

Adorei todos os presentes. Assim como nós, essencialmente musicais.

Assim, quase que sem querer, vamos tecendo nossas redes. Teias de amigos, de trabalho, de interesses. Uma frase batida, mas que sempre faz sentido: “nada é por acaso”. Embora, a princípio, possamos não entender aquilo que nos cabe, sempre há um porquê, algo implícito.

A mola propulsora que nos faz seguir adiante, estabelecer contatos e que não deixa arrefecer aquela rede que com tanto custo construímos. E isso, meus amigos, pode ser a carta na manga que vai te salvar do desemprego, de uma pauta que não rendeu o suficiente e até mesmo de um final de semana de solidão. Afinal para que servem os amigos?

Fundamental é fazer o encadeamento constante de histórias e interesses.

Procura-se um lar para Ziggy



Canino, sem raça definida, vulgo vira-lata
Preto, sete anos, castrado
Serelepe e inteligente
Necessita de ração, água, carinho
E um novo dono




Há alguns anos, quando decidi sair da casa da minha mãe, adquiri novos hábitos e necessidades. Veio também a vontade de ter um cachorro. Eu, guria de apartamento, nunca havia pensado nisso. Mas por que não? Assim, em fevereiro de 2003, chegou o primeiro deles. Um SRD, pra lá de bagunceiro, que atende pelo nome de Ziggy.

Foi-se a Passárgada, veio a mudança para Novo Hamburgo e tantas outras novidades que se seguiram dia após dia. Infelizmente (ou felizmente) não há como prever o futuro. Hoje, há outras demandas, novos objetivos. E agora, por questões de comodidade e segurança, retorno à origem.

Abandono, não só o espaço e as plantas no quintal, como a cidade onde permaneço trabalhando, mas, em breve, deixarei de morar. Volto para uma construção vertical e, o mais importante, para a minha terrinha.

Para isso, entretanto, preciso urgentemente encontrar um novo lar para o Ziggy. Difícil pensar na separação. E ver os olhinhos tristes a fitar-me, como se já soubesse o que o destino lhe reserva. Espero que seja um lugar bem bacana com um chefe da matilha que o aprecie tanto ou mais do que eu.

O bom e velho rock and roll


O show do Aerosmith, que ocorreu em Porto Alegre, entrou para a história. Pelo menos para a minha e para outra dezena de milhares de pessoas que estiveram no estacionamento da Fiergs, na noite de 27 de maio.

No palco, Steve Tyler, Joe Perry e companhia ofereceram uma apresentação impecável, que nem a chuva e alguns problemas técnicos, contornados maravilhosamente pela banda norte-americana, fizeram perder o brilho. Uma coletânea de hits, iniciada após a queda de uma bandeira gigante, desvelando os músicos aos primeiros acordes de Love in elevator.

Como não se emocionar ao ver o sessentão Tyler, com uma forma invejável, roupa brilhante, fazendo caras e bocas, e saudando o público com a frase: “E aí gaúchos?”




Espremida em meio à multidão, sob uma capa de chuva, adquirida no local - por R$ 6,00 - e na ponta dos pés, tentando elevar-me além do meu 1,61 metro, cantei clássicos como Dream on, Sweet emotion e Draw the line. E as maravilhosas baladas Crying, Crazy e I don’t want to miss a thing.

O momento mágico, no entanto, foi assistir à performance de Living on the edge, um dos meus clipes favoritos, que ocupava as primeiras posições da programação nos primórdios da MTV Brasil, no início da década de 90.

Posso dizer que o engarrafamento na free-way, a chuva que não deu trégua, a saída no estacionamento da Fiergs e a banda de abertura, uma tal Santo Graau catarinense, foram um horror.

A atração principal, porém, cuja apresentação teve início pontualmente às 22 horas, valeu cada centavo.

------------
Frase da noite: Ao comentarmos sobre as qualidades, digamos, físicas do guitarrista Joe Perry, diz minha pupila, Fefa:”Não, ele não dá um caldo ainda. Dá um sopão para alimentar uma família inteira”.

O bom e velho rock and roll!